A Importância da Conjectura e o jeito Toyota Kata de Progressão
Product Ride #4 - Como desenhar uma estratégia de produtos com a mentalidade correta
👋 Olá, aqui é o Sulivan Santiago, CTO da Lincon Health. Na minha caminhada ajudei milhares de empreendedores e intraempreendedores a lançarem seus produtos no mercado. Esta newsletter é um compilado de insights, análises, conteúdo e minhas próprias loucuras na jornada de zero a um.
Antes de começar, queria desejar a todos boas festas 🎅🎄 e um excelente ano novo 🥂🍾. A newsletter volta no dia 15 de Janeiro. Boa leitura!
🕐Tempo estimado de leitura: 5Min
Há 2500 anos atrás, Demócrito, filósofo grego, foi a primeira pessoa a julgar que todos os elementos do universo eram formados por átomos. A teoria veio do seguinte pensamento: O que acontece se qualquer elemento for dividido em pedaços menores de forma contínua? Chegará um momento onde não será mais possível fazer a divisão. A parte final, indivisível, ele chamou de atomo (do grego, “a” = negação e "tomo" = divisível). Centenas de anos se passaram e em 1808 o químico John Dalton comprovou a existência deles por meio de uma série de experimentos científicos, difundindo assim a teoria atômica.
A curiosidade é que, ainda que houvesse a comprovação na época, o átomo não era algo que podía ser visto. Demorou 147 anos para que o primeiro ser humano fosse capaz de realmente vê-lo por meio de um microscópio avançado. A tecnologia evoluiu de tal forma que em 2018 um estudante de física conseguiu tirar uma foto onde é possível ver um átomo de estrôncio a olho nu: (🤯 é incrível, super recomendo ler como ele fez este feito caso sua cabeça esteja dando um nó… como???):
Single Atom in an Ion Trap, por David Nadlinger (Universidade de Oxford)
Como somos capazes de descobrir aquilo que não vemos?
A história está repleta de descobertas daquilo que não somos capazes de experimentar diretamente pelos 5 sentidos. Por exemplo, as ondas de rádio, a radioatividade, o funcionamento do núcleo das estrelas, espaço-tempo, expansão do universo…
A resposta é dada por David Deutsch, físico israelense da universidade de Oxford. No seu livro The Beginning of Infinity ele argumenta que o conhecimento vem da teorização e conjectura, não dos nossos sentidos (por isso dos átomos descobertos antes da tecnologia avançada para vê-los).
Por quê os sentidos são inválidos? Como escutamos sempre por aí: Porque as aparências enganam! Por exemplo, a Terra está em rotação mesmo que você não sinta. Aristarco de Samos só concluiu que Terra gira porque em algum momento conjecturou. Embora os sentidos sejam importantes para ciência, eles não são a fonte que o conhecimento deve ser derivado.
Portanto, nos resta teorizar, conjecturar e experimentar. E isso já existe de forma estruturada. Conheça o Toyota Kata.
O jeito Toyota Kata de progredir
Fonte: Feito por mim, mas inspirado na animação do Bill Costantino
Toyota Kata (TK) é a metodologia que abraça a melhoria contínua. Mas sua forma de pensar pode ser aplicada perfeitamente para estratégia empresarial e porque não, produtos? Este é o nosso objetivo aqui. Portanto, os próximos exemplos e comentários serão dentro do contexto de Estratégia de Produtos.
O TK passa por 5 elementos:
Visão: A visão de longo prazo da empresa em relação ao seu cliente. Por exemplo, para a empresa Figma é: “Tornar o design acessível a todos”. Ela é qualitativa e de longo prazo;
Desafio (challenge): Para atingir a visão, uma vez que ela é ampla por definição, é importante estabelecer desafios de curto/médio prazo (1 a 3 anos) que podem demonstrar o que é necessário para chegar lá. Os desafios são comunicados como objetivo estratégico que alinha a companhia em termos de foco e organiza os times da empresa. Desafios são mensuráveis em sua grande maioria das vezes. Por exemplo, no caso do figma pode ser (achismo total aqui, mas vale conferir como figjam do figma nasceu): “Crescer 10x o número de usuários não designers na plataforma em 1 ano”;
Condição Atual: Onde estou hoje? O que sei sobre os problemas/desafios/necessidades que precisam ser resolvidos para chegar lá? Que tipo de soluções/ideias são possíveis? No caso do figma a condição atual poderia ser que sua base corrente de “não designers” é de 15%;
Condição Alvo (target condition): Como desafios são grandes e cheios de incertezas pelo caminho, é importante dividi-lo em partes menores para serem atacados. Isso inclui estabelecer alvos que a equipe não sabe como atingir no dia seguinte e portanto vai buscar espaço para experimentar diversos caminhos/soluções. Para o figma, a condição alvo poderia ser: “Pelo menos 1 produto, com tração, voltado ao público não designer”. Para uma pessoa de produto, a próxima pergunta seria: Qual dor vamos atacar para desenvolver este produto?
Experimentar: Experimentar soluções para chegar à condição alvo da forma mais eficiente possível. As interações a cada experimento revelam novas alternativas e assim por diante. É o processo lean que tanto ouvimos falar, de construir, medir e aprender. No papel do Produto Manager, líder do projeto, fundadores ou time do projeto seria fundamental entrevistar potenciais públicos-alvo, mergulhar nos números atuais, entender os pontos de fricção, entender as alternativas existentes e etc.
Abaixo você pode encontrar mais um exemplo do que seria uma estratégia de produto, agora da empresa Uber. Eu fiz uma adaptação do canvas de estratégia de produtos da Melissa Perri, que é construído em cima do TK. Você pode encontrar o Canvas para download aqui.
Agora é a sua vez de entrar na piscina, sujar as mãos ou descer para o playground. Maaaas… Eu sinceramente acho que o Toyota Kata por si só não é suficiente para montar uma excelente estratégia de produtos. Então eu queria compartilhar mais dois materiais com você caso esteja a fim de ir um passo além (Ambos conteúdos em inglês):
Thread do Shreyas Doshi sobre estratégias de produto boas e ruins:
The whole [scientific] process resembles biological evolution. A problem is like an ecological niche, and a theory is like a gene or a species which is being tested for viability in that niche.
― David Deutsch, The Fabric of Reality: The Science of Parallel Universes and Its Implications
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Obrigado por ler até aqui. Fique à vontade para comentar abaixo ou me responder este e-mail contando o que achou. Se tiver qualquer material adicional também em relação a estratégia, comente aqui! A comunidade agradece.
Abraço,😉
Entendo que em tempos de governanta sócio ambiental, poderíamos incluir alguns elementos de valor nessa jornada e na sua análise. Porém gosto muito dos modelos tradicionais de gestão, como esses demonstrados. Um abraço e bom fim de ano.
O OKR's Canvas pode ajudar a sintetizar uma boa estratégia de negócios para direcionar a estratégia de produto. Quando quiser podemos falar a respeito grande mestre Sullivan