Percolação de Produtos e Spatial Thinking
Product Ride #11 - Uma visão diferente e inovadora em produto
👋 Olá, aqui é o Sulivan Santiago, CTO da Lincon. Na minha caminhada ajudei milhares de empreendedores e intraempreendedores a lançarem seus produtos no mercado. Esta newsletter é um compilado de insights, análises, conteúdo e minhas próprias loucuras na jornada de zero a um.
⚠️ Disclaimer: O post começa sua introdução com uma pegada na ciência. Fique comigo, a conexão com produto irá vir logo mais. Ah, só mais uma coisa. Eu montei um grupo de WhatsApp para trocar conhecimento, material, notícias, apoio e muito mais. Tem uma galera pesada lá! Link está no final do artigo.
[Em um dias desses atrás…]
Esquentei a água, coloquei o café moído no coador e comecei a despejá-la e aí me veio um pensamento. Por que a água demora X minutos para passar pelo coador e não Y? Por que não um segundo a mais ou a menos? Ok, hora de explorar o assunto. Após alguns artigos e vídeos eu chego em algo chamado Mecânica dos Fluidos, em especial o tema percolação. A percolação explica como um fluido tem capacidade de atravessar um objeto. Por exemplo, a água encharca uma esponja com mais facilidade que um tijolo. Isso se dá por conta da maior quantidade de poros e canais disponíveis na esponja.
Voltando ao café e a minha pergunta inicial…
No caso do café a velocidade de percolação (água passando pelo coador) está ligada à moagem, que pode gerar um pó mais fino ou mais grosso. Quanto mais fino o grão obtido por este processo, mais lenta a água vai passar. Isso porque a quantidade de poros e “caminhos entre estes poros” é menor. O contrário, é uma moagem mais grossa. Por conta de um número maior de poros e canais a água corre mais rápido.
A probabilidade de algo ser percolado tem a ver com a quantidade de poros e canais entre eles. E a quantidade mínima deles para viabilizar a percolação se chama ponto crítico.
Curiosamente, temos a mesma ideia (percolação) no processo de fissão nuclear (energia liberada quando átomos pesados são separados). Neste caso, chama-se massa crítica. Ela refere-se à quantidade mínima de material físsil que precisa estar presente para que uma reação nuclear em cadeia seja sustentada. É por isso que uma bomba atômica é tão devastadora. A massa crítica permite que, após cada fissão, novas fissões sejam feitas, liberando energia em cadeia.
A ideia "percolar“ é tão forte que podemos aplicá-la em diferentes contextos. Por exemplo, qual a probabilidade de uma floresta pegar fogo se uma árvore estiver em chamas? Depende do quão próximas as outras árvores estão. Quanto maior a densidade da floresta, maior o número de poros e conexões. Logo, maior probabilidade. Podemos modelar e visualizar isso pelo software de modelagem NetLogo. No vídeo abaixo eu demonstro dois cenários. O primeiro, com 57% de densidade (observe o retângulo verde). O segundo, com 65%. Preste atenção no retângulo amarelo, veja como a porcentagem de área queimada muda de acordo com a densidade.
Na mecânica dos fluidos temos percolação e ponto crítico. Na física nuclear, fissão e massa crítica. No exemplo do fogo acima, densidade. E em produtos?
Percolação em Produtos
⚠️ IMPORTANTE: O conceito de percolação aplicado a produtos já foi pensado, só que na ótica de penetração de mercado. Aqui eu quero propor um outro olhar.
O Duolingo é um dos mais famosos e populares aplicativos para aprender um novo idioma. Em 2021 ela lançou um produto genial, o duoling roll. A proposta de valor era transformar o banheiro em uma sala de aula. Sem ads, sem interrupções. Aprender um novo idioma requer tempo e é algo escasso nos dias atuais. O que alguns minutos não poderiam te ensinar já que na circunstância de uso do produto você está obrigatoriamente parado? Só tem um problema, não é um produto real. Ele foi parte de uma campanha de marketing (baseada no dia 1o de Abril). Apesar disso, tem um fundo de verdade aqui. Ele traz exatamente o ponto que quero explorar: Percolação em produtos.
Imagine quantos gatilhos do tipo “Eita, hoje eu não estudei” ou “Bem lembrado, vou estudar logo depois…" O Duolingo roll não poderia gerar? Quando pensamos deliberadamente nos possíveis “poros/canais” que podemos trabalhar, quando colocamos as lentes da percolação, temos um oceano de oportunidades para ganhar engajamento, adoção e mindshare do nosso cliente. Mas, como desenvolver ideias como esta da Duolingo? Pensamento espacial é a resposta. Ela é a ferramenta perfeita para ampliar nossa visão de forma poderosa.
Pensamento Espacial (Spatial Thinking)
Aprender a pensar espacialmente é considerar os objetos em termos de seu contexto. Ou seja, a localização do objeto no espaço da vida, espaço físico ou espaço intelectual, para questionar por que os objetos estão localizados onde estão e para visualizar as relações entre esses objetos (Saiba mais).
Apesar de soar como um termo complexo todos nós aplicamos em nosso dia a dia. Por exemplo, quando você organiza seu guarda-roupas, quando coloca a louça suja na máquina de lavar louças, quando organiza a dispensa, quando cozinha, quando desenvolve um software, quando planeja uma sprint, quando prepara a agenda de uma reunião… o tempo todo estamos pensando espacialmente. Que boa notícia!
Então, no fim do dia é uma questão de exercício mental focado em produtos para chegarmos em ideias de percolação com o pensamento espacial. Eu encontrei quatro perguntas que servem como um excelente ponto de partida para o nosso objetivo:
Onde a pessoa gasta majoritariamente seu tempo? E nesta hora, o que está ao seu redor?
O que ela é obrigada a fazer, independente do seu desejo?
O que ela ama fazer?
Que momentos/situações essa pessoa pode passar a ponto de gerar uma forte ligação emocional? Exemplos: hobbie, eventos (casamento) e etc?
Vamos viajar para o campo das ideias… Pense nas perguntas acima como se fosse o time do Duolingo. Não prossiga, pare por alguns minutos e anote as ideias.
[Pausa]
O que você pensou? Que tipo de coisas surgiram para você? No meu caso eu cheguei em algumas ideias e usei o “e se”:
Onde a pessoa gasta majoritariamente seu tempo? E nesta hora, o que está ao seu redor?
No banheiro, escovando os dentes. E se tivesse um adesivo de espelho escrito para a pessoa resumir as prioridades do seu dia ou perguntando como foi o dia de ontem no idioma que ela está aprendendo?
No mercado, fazendo compras. E se tivesse uma lista de compras no novo idioma?
No carro, indo para o trabalho. E se houvesse uma IA para dialogar e treinar a conversação?
O que ela é obrigada a fazer, independente do seu desejo?
Beber água! E se houvesse um app da duolingo com lembrete para tomar água e a cada alerta mostrasse uma palavra nova?
O que ela ama fazer?
Leitura! E se houvesse um clube do livro em inglês?
Algumas ideias são simples e baratas, outras complexas e caras. O importante é gerar oportunidades e em seguida encontrar aquelas com menor esforço (ou menor risco) e maior impacto. Claro, não esquecendo da validação.
Aqui na Lincon temos pensado bastante em percolação. A propósito, nossa estratégia maior de produto é baseada nisto. Estamos criando diferentes features e explorando diferentes canais para cada vez mais criar densidade no relacionamento com o paciente. Abaixo quero compartilhar dois exemplos, um físico e outro digital:
Contexto: A Lincon é uma healthtech. O exemplo abaixo considera nossa unidade de atendimento para clientes B2B, onde cuidamos principalmente de pacientes crônicos.
No digital, estamos presentes nas ferramentas de comunicação das empresas. Por exemplo, se o cliente XPTO tem Slack, nós teremos um canal lá! Perceba como isso vai além do nosso produto core. Outro exemplo é nossa playlist no Spotify, que pode ser um canal mesmo quando nosso paciente não está em atividade física!
No físico, temos o chinelo da Lincon. É provável que em algum momento do dia a pessoa irá calçar um chinelo. Daí a ideia da Lincon estar lá! Além de ter um apelo de marketing (“a lincon está nessa caminhada com vc”) ainda existe o gatilho para inserção de tarefas no app, que pode ocorrer de forma diária/semanal.
Perceba que percolar não é sobre jornada! É muito além de marketing e/ou jornada de uso. A propósito, se trata também de jornada de não uso. Dos momentos que o cliente não interage com seu produto. Tem, inclusive, relação com observar outros Jobs to be Done. Por exemplo, e se motoristas da Uber pudessem complementar sua renda com uma feature: “falo inglês ou espanhol, estou aberto a conversar!"? Seria um lugar de aprendizado inusitado que poderia ser explorado pelo Duolingo. O Job to be Done funcional neste caso é sair do ponto A para o ponto B, não é aprender um novo idioma. E mesmo assim abre-se oportunidade de percolar!
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Encerro esse post às 16:46 e isso me lembra uma coisa! Pausa para o meu café ☕!
Até a próxima 👋
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